lembre-se do desespero do atraso. da hora que não chegou, mas que parece já ter ido. sinta a dor da espera, infinita pra você, mas acelerada pra quem estiver chegando. tente perceber o quanto de audácia era ver alguém desdenhar do relógio e fazer crer que um nanonada de segundo é uma noite inteira de lua cheia. assim era ademir da guia, que em 3 de abril fez 70 anos, dias, milênios
o senhor dos bons tempos
Ademir da Guia
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário
(João Cabral de Melo Neto)
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