até quis saborear o mundo. mas achei que me contentaria com metade. mas metade é um caminho certo para tudo. e tudo é muito
me lancei para o um quinto. bem menos. mais preciso. mas esta parte se mostrou tão grande e abrangente que me perdi em números, nomes, histórias
já não tinha muito a própria identidade. os caminhos já não eram automáticos, a ponto de, ao mesmo tempo, ouvir música, ler letras mal ordenadas em placas, ver no espelho se as sobrancelhas estavam alinhadas
o tempo também se mostrou arredio. não havia mais horas – relógio. a voracidade de dar e receber, mesmo com a melhor das intenções, mostrou que muitas energias ao mesmo tempo podem queimar a instalação
submergi. visitei desfiladeiros. me joguei em poços de mineração sem querer resgate tão cedo. talvez tenha perdido pedras preciosas. mas não tinha a iluminação necessária. os calores e suores antes tão desejados agora me transformaram em um motor quente de geladeira de sorveteria
avisei o mundo que, ele todo, está com espinhas e furúnculos. respira rápido demais pra quem gira tão devagar. até recomendei umas caminhadas, com paradas. mas o mundo lá... girando, girando. parei
sentei na poltrona da janelinha e, agora, passeio pela serra. já vejo o mar. e lá, a onda. e ela também me vê. eu, descendo. ela, chegando. um encontro que se faz. não mais com o mundo. mas com um mundo
(pintura de duarte vitória)